Em entrevista ao podcast Still Watching da Vanity Fair, Evan conta sobre o processo das filmagens da minissérie Mare of Easttown na qual interpretou o detetive Colin Zabel. Também trás detalhes das filmagens durante a pandemia e conta à entrevistadora Joanna Robinson qual são os planos para sua carreira e filmes que está curtindo atualmente.
Joanna: Ok eu vou começar com uma pergunta meio idiota mas foi o que todos perguntaram, que é: O que te atraiu para este projeto em primeiro lugar? Mas eu estou muito curiosa com a sua resposta porque esse projeto foi muito diferente para você então eu estou muito interessada. 

Evan: Sim. Eu fiz parte de algo diferente. Eu sempre via que no projeto tinha a Kate Winslet então pensei… SIM! OK! (Risos) Mas eu fiz meu teste em vídeo e mandei para eles e, eu gosto da ideia que a série se passa em uma cidade pequena, eu vim de uma cidade pequena então tudo pareceu muito real para mim. Então eu fiquei interessado em trabalhar nisso e novamente, era uma oportunidade de trabalhar com Kate Winslet e aprender com ela e ver seu processo. Então, é, foi basicamente isso.

Joanna: O que você aprendeu do processo dela?

Evan: Eu aprendi sobre detalhes. Kate é uma pessoa muito detalhista e orientada. Então isso foi muito útil e não sei quanto disso fazia parte do processo dela. Ela costumava chegar às 2:38 da tarde para o trabalho e dizer “ok, nós acabamos de almoçar, pegamos um café agora vamos fazer isso”. E eu pensava “será que eu deveria ser assim?” (risos). Eu não estava preparado desse jeito, então era muito legal ver ela chegar e já entrar nas circunstâncias da história e do personagem, eu achei isso muito legal e útil. E a Kate é uma pessoa maravilhosa, ela tem muita empatia e compaixão e cuida de todos, e trabalha em grupo, também é pé no chão e essa habilidade de sair e entrar no personagem com tanta facilidade me deixou incrivelmente com inveja disso. Então foi muito bom ver ela balancear isso tudo na série e trabalhar tantas insanas horas e ainda ser um doce de pessoa então foi realmente muito incrível trabalhar com ela.

Joanna: Eu estava conversando com o diretor (da série), que é o homem mais amável do mundo e ele me disse que enquanto ele lia as páginas do roteiro, ele via o personagem (Zabel Colin) muito diferente, que tinha uma abordagem diferente. E vocês decidiram dar outro ar ao personagem, o que foi uma boa ideia. Eu queria saber se você tinha ideia disso e se considerava o personagem tendo outro ângulo como no roteiro?

Evan: Sim, eu acho que originalmente ele tinha um ar de detetive durão e que estava sempre certo, ele sabia puxar a arma muito bem e rápido e eu nem estava fazendo aulas sobre isso (risos). Mas ele mora com a mãe e sua ex o deixou faz 5 anos, então ele acabou pegando aquele caso anterior dele como se ele tivesse resolvido e depois viu o quanto ele tinha errado fazendo isso. E eu acho que você pode interpretar isso de duas maneiras, ou ele fez isso porque era muito orgulhoso ou porque tinha muita insegurança dentro de si e não faz ideia do que está fazendo ali. Então, eu prefiro fazer do segundo jeito e eu realmente acho que interpretei Colin do jeito que eu estava aprendendo com Kate, Colin estava aprendendo com Mare, como ela lida com seus instintos e isso é algo que Colin perdeu então ele está tentando ganhar isso tudo de volta. E eu acho que foi divertido ter o Colin desse jeito ali perto da Mare sem saber onde ir e aprendendo tudo com ela, pois afinal ela sabe que apesar de tudo ele só quer aprender a trabalhar corretamente e fazer um bom trabalho, ela vê a inocência nele.

Joanna: Tem uma cena no episódio três que Colin está bêbado e ele fala várias coisas que eu acho que o público pode se identificar muito com ele e realmente é uma das melhores cenas de bêbado que eu já vi então, eu queria saber como foi o processo para gravá-la?

Evan: Obrigada! Foram anos de pesquisa e experiência (risos). Mas realmente acho que ali Colin queria falar algo que ele estava guardando no peito, ele queria ter alguém perto dele para compartilhar aquilo e depois de ter pego as evidências do outro cara e surgido com elas como se ele tivesse descoberto, ele acabou se afogando nas bebidas para se livrar daquela lembrança, e aí aparece a Mare e ele realmente gosta muito dela. Ele vê nela esse sentimento que o faz sair da sua zona de conforto e ele gosta disso, ele vê nela o bom detetive que ele quer ser. Não sei se isso foi uma resposta muito técnica para sua pergunta. 

Joanna: Eu tenho uma pergunta técnica na verdade sobre essa cena, que durante ela eu olhei bem de perto e vi suas veias saltadas no rosto e pensei se você estava espremendo seu rosto entre seus joelhos durante as filmagens para aquilo acontecer (risos).

Evan: Eu não sei, eu acho que isso acontece quando a coisa fica intensa ou eu fico muito emocionado ou algo assim, acho que é.

Joanna: Isso acontece quando eu bebo muito álcool, mas eu acho que isso ficou ótimo para cena.

Evan: Após esta cena eu abracei muito o Frank (diretor) e chorava compulsivamente porque eu achava que nós não tínhamos filmado a cena corretamente então eu comecei a gaguejar e falar “eu sou um ator terrível eu fiz tudo errado e arruinei tudo” e o Frank disse “não ok ok está tudo bem, eu acho que nós pegamos tudo certo” e eu continuava dizendo que não sabia e duvidando de mim mesmo. E depois me disseram que as pessoas estavam realmente amando aquela cena e eu fiquei tipo “sério?” Então foi um ótimo alívio, mas eu pensei muito sobre o que estava acontecendo com o meu auto julgamento naquele momento.

Joanna: Acho que todos temos um pouco dessa síndrome de impostor com nós mesmos, não é?! Agora quero saber sobre as filmagens na pandemia, como foi tudo isso?

Evan: Nós saímos das filmagens em março de 2019 e voltamos em setembro então eu acho que na maior parte houveram muitas edições acontecendo na série, aí quando voltamos tínhamos todas as máscaras e face shields e proteções diferentes com todo o pavor de pegar esse vírus mortal então eu estava tentando juntar tudo isso com a ideia de ter que voltar pras gravações e todo o sotaque do personagem (risos). 

Joanna: O sotaque foi outra coisa que você achou que não tinha conseguido fazer? Porque todos estão dizendo que o seu foi o melhor sotaque da série ou um dos melhores.

Evan: Sério? Nossa! (Risos). Sim eu achei que não tinha conseguido isso também, mas também tinha a Kate que é da Inglaterra e eu sempre a vi falando inglês britânico e ela chegava e falava igual uma americana! Mas tínhamos também o Steve que tinha o sotaque que o Colin devia ter e eu conversava muito com ele pra ensaiar e estudar o sotaque. Eu nunca havia ouvido esse tipo de sotaque na minha vida então foi muito novo para mim, mas eu amei e foi muito divertido de fazer e bizarro (risos).

Joanna: Eu tenho que perguntar aqui o que você acha da morte do Zabel, porque foi algo muito chocante naquele episódio porque ele estava aprendendo algo com a Mare e sua vida estava tomando outras direções e então então acabou. A primeira vez que eu vi pensei que a bala tinha escapado da cabeça, mas depois vi todo o sangue e notei que tinha acertado. O que você me diz desse acontecimento?

Evan: Pobre Zabel, eu sempre achei tão chocante e real. Morte, acidentes, doenças, esse tipo de coisa acontece do nada e não sabemos como reagir. Mas eu acho que isso deixou claro como é assustador e perigoso trabalhar como detetive e como as coisas podem acontecer com você, mas realmente me chocou muito.

Joanna: Como você incorporou e interpretou a fé do Zabel?

Evan: Eu sempre fui criado num ambiente católico, eu fui a uma igreja católica quando criança e é interessante porque na verdade eu nunca pratiquei o catolicismo, eu me considero na verdade um agnóstico atualmente, e eu acho que fiz isso com o Zabel também. Mas acho que ele também está num tumulto com essa questão pessoal porque vemos ele tendo problemas com seu trabalho de detetive e vendo o que ele vê diariamente no seu trabalho realmente é algo que mexe com sua fé e a abala um pouco. E ele também tenta se distanciar da mãe até onde vimos e sua mãe é uma católica praticante então isso acaba sendo outra deixa para ele se distanciar da religião em si. Eu acho que a vontade de Zabel era sobretudo se distanciar de toda sua família, virar um homem e mandar tudo pro alto, ser independente finalmente e ter tudo sob nova perspectiva. Ele é um garoto-homem e a Mare vê isso e deixa claro pra ele que ele tem que se posicionar e ter suas próprias opiniões e ideias que fogem da sua normalidade com a família.

Joanna: Evan, minha última pergunta, e novamente muito obrigada por aceitar fazer isso conosco.

Evan: Sem problemas, obrigado à vocês. 

Joanna: Eu sei que sua carreira tem sido bem sólida como ator, mas eu fico imaginando se após todos esses trabalhos você gostaria de se aventurar como diretor ou algo assim? 

Evan: Sabe, a última vez que eu falei com o diretor da série eu disse que queria muito participar do próximo projeto dele porque o cara é muito legal e tem muita criatividade, foi uma experiência maravilhosa trabalhar com ele. E em termos de direção eu acho que quero tentar algo mais relacionado a projetos da vida e do dia a dia de todos, estou atualmente assistindo muito desse tipo de projeto mais autêntico mas acho meio assustador partir da atuação para a direção, mas vamos ver como tudo continua, não se sabe… 

Joanna: Bem rapidinho, eu gostaria de saber quais são as coisas essas que você diz que está assistindo atualmente nesse tom?

Evan: Eu sabia que você ia perguntar isso (risos). Eu tenho uma ótima lista, não sei se vou pronunciar isso certo mas tem um filme que é Au hasard Balthazar de 1966, é um dos melhores filmes que eu já vi e não tem nada demais nele mas a atuação é ótima e tão emotiva, nem tenho palavras pra descrever esse filme (risos). E também assisti Stroszek que foi ótimo, Uzak também, foi um filme muito calmo e silencioso, Buffalo’66 era legal também, muito intenso. Ah! E também A Woman Under the Influence, é ótimo! Filme fantástico e com atuações fantásticas. E uma coisa que eu gostei desses filmes é que eles são bem longos, mas nada é cortado deles, nenhuma cena pequena é cortada, está tudo ali. É tudo muito animador de assistir, então eu estou bem interessado nesse tipo de filme no momento.

Joanna: Acho que depois desse ano tumultuado que tivemos, é legal ver esse tipo de filme.

Evan: Exato! De volta às raízes. 

Ouça ao podcast em inglês aqui.